sexta-feira, 25 de abril de 2014

Suspeita de 'mal da vaca louca' volta a ameaçar o País

O 'mal da vaca louca', doença neurológica que pode levar animais a morte e pôr em risco a vida humana em caso de consumo de carne contaminada, voltou a ameaçar o País. O Ministério da Agricultura confirmou ontem que detectou uma deficiência na formação de proteína, que caracteriza a Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) - nome técnico da doença da 'vaca louca', causada por falha em partículas importantes para o desenvolvimento dos neurônios.

O ministério não divulgou detalhes sobre a localização da fazenda, não informou se o local vende para frigoríficos nacionais ou internacionais e há quanto tempo trabalha com a suspeita da doença. A nota classifica como "caso provável" a ocorrência no Mato Grosso "em virtude de problemas reprodutivos ocasionados pela idade avançada e sem sintomas de distúrbios neurológicos" e diz que a carne não foi consumida. Os demais animais da mesma idade do que foi sacrificado foram afastados do rebanho da fazenda mato-grossense. Eles estão interditados individualmente. Não se sabe se outros animais continuam sendo abatidos e vendidos pela fazenda, porque o governo não fornece estes dados.

O caso é "atípico", segundo o ministério, uma vez que o animal não desenvolveu a doença nem morreu em função dela. A marcação se desenvolveu naturalmente por causa da idade avançada do animal, que foi abatido e incinerado. "As investigações de campo indicam tratar-se de uma única suspeita de caso atípico de EEB, já que o animal foi criado exclusivamente em sistema extensivo (a pasto e sal mineral) e foi abatido com cerca de 12 anos de idade", diz a nota.

O animal foi abatido no dia 19 de março, depois que uma inspeção de rotina identificou o bovino caído - o chamado "decúbito forçado" é resultado da fraqueza muscular, um das consequências da EEB. O animal teria sido criado em uma fazenda na fronteira com a Bolívia. "Com esse quadro, o animal não foi considerado apto ao abate de rotina, sendo direcionado ao abate de emergência e submetido à colheita de amostras para o teste de EEB", diz o ministério.

A avaliação inicial foi realizada por laboratório brasileiro e, agora, será concluída pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). A estimava é de que a OIE apresente o resultado dos exames na próxima semana.

Exportação

A suspeita de EEB ocorre no momento em que o governo brasileiro negocia uma autorização dos Estados Unidos para que 14 Estados exportem carne in natura para o mercado norte-americano. A abertura é vista como um selo de qualidade à carne brasileira e é vista como passaporte em busca de mercados com controles de importação rigorosos, como Rússia, Japão e China.

O primeiro caso atípico de 'vaca louca' do País foi registrado em 2012, no Paraná. Naquele ano, o impacto da informação foi a suspensão temporária das importações por diversos países - entre eles a China, que mantém o embargo sanitário até hoje (o apetite chinês por carne é aplacado indiretamente via Hong Kong, principal importador do produto brasileiro, que atua como um distribuidor da carne comprada no Brasil para outros asiáticos).

O caso paranaense fez com que, além da China, alguns mercados árabes importantes fechassem as portas temporariamente - entre eles estiveram Egito e Irã, respectivamente, o quarto e o sexto maiores importadores em 2013.

Risco

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) evitou avaliar o eventual impacto da suspeita de 'vaca louca' em Mato Grosso. Em nota, a entidade se limitou a afirmar que "o caso não representa riscos para a cadeia de alimentação humana ou animal". O posicionamento cauteloso está alinhado com o governo. O Ministério da Agricultura já teria desenvolvido uma estratégia para se posicionar no que classifica como uma "batalha da comunicação" para evitar que a notícia atrapalhe as exportações.

A idade do animal com suspeita do mal da 'vaca louca' em Mato Grosso conta a favor do Brasil para manter a classificação de risco positiva. Isto porque o caso clássico da doença ocorre em rebanhos mais novos, de até 7 anos. Em animais mais velhos, a EEB é vista como natural quando ocorre por marcação priônica, em função do envelhecimento das células do animal.

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